Dr. Leonardo Freitas

Quando falamos sobre doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), estamos nos referindo a  um grupo de doenças caracterizadas por obstrução crônica das vias aéreas, dificultando a entrada e a saída de ar dos pulmões, tornando a respiração mais difícil.

A doença é mais comum em pessoas com mais de 50 anos de idade e está associada, principalmente,  ao hábito de fumar, sendo, atualmente, a terceira causa de óbitos no mundo e ocupando no Brasil o 5º lugar.

As formas mais comuns de DPOC incluem o enfisema pulmonar (destruição irreversível do pulmão) e a bronquite crônica (inflamação das vias aéreas).

Bronquite crônica:

Na bronquite crônica, as vias responsáveis pela passagem de ar ficam inflamadas, as glândulas produtoras de muco aumentam produzindo muita secreção o que provoca tosse crônica com saída de catarro.

Enfisema pulmonar:

No enfisema, os pequenos sacos de ar (alvéolos) que existem dentro dos pulmões são destruídos, dessa forma, desenvolvem-se “buracos” no tecido pulmonar, reduzindo sua capacidade de receber oxigênio. A respiração pode se tornar mais difícil e ineficiente, em fases mais avançadas da doença o paciente pode sentir falta de ar o tempo todo.

Algumas pessoas podem ter uma forma hereditária (genética) de enfisema, isso porque o seu corpo não produz uma proteína protetora do pulmão chamada alfa-1 antitripsina. Nesses casos, o enfisema pode aparecer de forma precoce, em torno dos 30 anos.

enfisema

Quais são as causas de DPOC?

É importante ter em mente que qualquer tipo de fumaça que entre em contato com o tecido pulmonar através da respiração pode causar danos e levar o paciente a desenvolver DPOC.

Entre as principais causas, podemos citar:

  1. Fumar cigarros
  2. Inalar qualquer tipo de fumaça
  3. Exposição à poluição do ar
  4. Exposição a poeiras orgânicas e gases tóxicos no local de trabalho (fábrica de algodão e fábrica de plásticos, por exemplo)
  5. Exposição à produtos químicos (mercúrio, chumbo, poeira de carvão e sulfeto de hidrogênio)
  6. Morar ou conviver com um fumante (tabagismo passivo)

Além do cigarro convencional, outros tipos de fumo, como maconha, narguilé, cachimbo e cigarro eletrônico também podem levar ao desenvolvimento da doença. A poluição ambiental, a queima de biomassa (queimadas de lavouras e uso de fogão a lenha) também são possíveis causas de DPOC.

fumaça

Quais os sintomas da DPOC?

Os sintomas nas fases iniciais da doença são leves e esporádicos, podendo avançar quando a doença não é diagnosticada e o fator de risco (exposição) que causou a doença não é afastado. Nesses casos, os sintomas tornam-se piores, mais fortes e mais frequentes com o passar do tempo.

Pacientes com DPOC podem apresentar sintomas relacionados ao enfisema e à bronquite crônica de forma isolada ou até mesmo em conjunto.

Entre os principais sintomas de DPOC, podemos citar:

  1. Falta de ar
  2. Respiração rápida e ofegante
  3. Tosse frequente
  4. Produção de secreções pulmonares (“catarro”), principalmente pela manhã
  5. Chiado no peito
  6. Cansaço
  7. Fadiga constante
  8. Aperto no peito
  9. Dificuldade para dormir
  10. Perda de peso (em fases avançadas)

DPOC

Como fazer o diagnóstico de DPOC?

O diagnóstico baseia-se na história clínica (avaliação dos sintomas e fatores de risco), no exame físico e na realização de exames complementares, para tanto, é essencial que você procure um médico pneumologista!

Entre os exames atualmente disponíveis, podemos citar:

  1. Espirometria (prova de função pulmonar): também conhecida como “exame do sopro”, mede a quantidade de ar que uma pessoa é capaz de inspirar e expirar cada vez que respira.
  2. Raio-x e tomografia de tórax: são exames de imagem úteis para avaliação de danos nos pulmões e sua extensão. Avaliações indiretas do tamanho do coração também podem ser realizadas através desses exames.
  3. Eletrocardiograma: mede a atividade elétrica do coração, geralmente é realizado para garantir que seus sintomas não sejam relacionados a um problema cardíaco.
  4. Exames de sangue: medem os diferentes tipos de células sanguíneas (podem estar alteradas nos casos mais avançados), medem também a quantidade de oxigênio no sangue e podem auxiliar no diagnóstico de enfisema hereditário, através da dosagem dos níveis de alfa-1 antitripsina no sangue.

DPOC tem cura?

Infelizmente nenhum tratamento é capaz de reverter totalmente a doença.

Embora não tenha cura, a DPOC é tratável. Através do acompanhamento de um médico pneumologista e cuidados individuais (parar de fumar, uso de medicamentos, exercício físico direcionado, realização de vacinas) é possível reduzir os sintomas, aumentar a capacidade de realizar exercícios e melhor a qualidade de vida.

Como tratar a DPOC?  

O primeiro e mais importante passo do tratamento é parar de fumar (ou cessar a exposição que causou a doença).

Parar de fumar é mais eficaz nos estágios iniciais da doença, quando ainda é possível se obter certo grau de reversão das alterações pulmonares.

Nas avanças mais avançadas, parar de fumar retarda o declínio da função dos pulmões, retardando, consequentemente, a progressão da doença.

Conheça os 5 principais tratamentos da DPOC:

1. Mudança do estilo de vida: manter uma dieta equilibrada ajuda a manter a resistência e a imunidade para combater infecções; beber líquidos ajuda na hidratação das secreções pulmonares, facilitando sua expectoração. O exercício físico ajuda na resistência física e melhora a qualidade de vida. Além disso, é de extrema importância manter a vacinação em dia com o objetivo de manter os pulmões bem protegidos de infecções.

Atualmente são indicadas para os pacientes com DPOC as seguintes vacinas:

  • Influenza todos os anos (vacina da gripe)
  • Pneumocócicas VPC13 e VPP23 (vacinas para pneumonia)
  • dTpa (vacina para coqueluche: um tipo de infecção causado por uma bactéria)
  • Herpes Zoster
  • Ter recebido as doses recomendadas de COVID-19

2. Medicamentos: os medicamentos inalatórios (“bombinhas”) constituem o pilar principal no tratamento de pacientes com DPOC. São compostos, em sua grande maioria, por broncodilatadores, que relaxam os músculos das vias aéreas, facilitando a passagem de ar e permitindo que o paciente melhore da tosse e da falta de ar.

Em casos mais graves, alguns medicamentos orais também podem ser utilizados:

  • Mucolíticos: substâncias que “afinam” o muco/secreção das vias aéreas, facilitando sua expectoração e reduzindo a tosse
  • Corticosteroides: uma classe de anti-inflamatórios, são úteis nos períodos de exacerbação (“crises de bronquite”)
  • Roflumilaste: medicamento com ação anti-inflamatória indicado para pacientes mais graves e que tenham “muitas crises” durante o ano
  • Antibióticos: assim como os corticosteroides, podem ser utilizados durante curto períodos “nas crises”, ou em dias alternados, durante longos períodos, para prevenir infecções recorrentes.

3. Reabilitação pulmonar: consiste em um conjunto de exercícios (acompanhado, geralmente, por um fisioterapeuta) com o objetivo de fortalecimento dos músculos das pernas e dos braços com “pesos” de academia, e realização atividades aeróbicas (caminhada ou bicicleta).

O objetivo é deixar as pernas e braços “mais fortes”, melhorar o condicionamento físico e amenizar, dessa forma, a falta de ar e cansaço decorrentes da doença pulmonar.  Estudos demonstram que podem também reduzir o número de “crises”, reduzindo também necessidade de internações.

4. Uso de oxigênio: pacientes com doença mais avançada e grave podem necessitar do uso de oxigênio.  Essa terapia tem como objetivo aumentar os níveis de oxigênio no sangue (saturação de oxigênio) afim de manter o pulmão saudável.

Além disso, pode trazer como benefícios:

  • Melhorar a qualidade de vida
  • Aumentar a capacidade de realizar exercícios físicos
  • Melhora sua função mental
  • Prolongar a vida

5. Procedimentos cirúrgicos: a cirurgia é recomendada  em casos específicos, no geral em casos mais avançados e graves e que nenhuma outra terapia surtiu efeito.

Atualmente, existem dois tipos principais de procedimentos que podem ser realizados:

  • Cirurgia de redução de volume pulmonar: esta cirurgia remove as partes mais danificadas dos pulmões, permitindo que as partes saudáveis se expandam e funcionem melhor
  • Transplante pulmonar: utilizado como última opção, consiste em substituir o pulmão doente por outro proveniente de um doador saudável.
vacina

Quando procurar um médico pneumologista?

Se você fuma (ou já fumou), trabalha (ou já trabalhou) em algum local com produção de poeiras orgânicas, gases tóxicos ou produtos químicos (que aumentam o risco de DPOC) e apresenta sintomas como falta de ar, cansaço, tosse (com ou sem catarro) ou diminuição na sua capacidade habitual de exercícios, procure um médico pneumologista para melhor avaliação e realização de exames.

Fontes:

https://www.health.harvard.edu/diseases-and-conditions/chronic-obstructive-pulmonary-disease-copd

https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-brasil/eu-quero-parar-de-fumar/noticias/2022/voce-sabe-o-que-e-a-doenca-pulmonar-obstrutiva-cronica

Mês de atenção à DPOC: uma das doenças mais prevalentes em adultos (sbpt.org.br)

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